Shiva, o deus da destruição, regeneração e do yoga.

Mitologia, nomes e mantra

Shiva é por excelência a divindade dos yogins e é muitas vezes representado como um yogin de cabelos compridos e emaranhados, corpo coberto de cinzas e levando consigo uma guirlanda de crânios – sinais da mais perfeita renúncia. 

Nos seus cabelos está o crescente lunar, símbolo da visão e do conhecimento místicos. Seus três olhos são o sol, a lua e o fogo, e revelam-lhe todas as coisas do passado, do presente e do futuro. O olho central ou “terceiro olho”, localizado na testa, está ligado ao fogo cósmico; um único olhar desse olho tem o poder de transformar em cinzas todo o universo.

A serpente enrolada em torno do seu pescoço simboliza a misteriosa energia da kundaliní.

O rio Gangâ (Ganges) que jorra do topo da sua cabeça é um símbolo da purificação perpétua, o meio que Shiva usa para conferir aos devotos a dádiva da libertação espiritual.

A pele de tigre sobre a qual ele se senta representa o poder (shakti) e seus quatro braços expressam o perfeito e absoluto controle que ele tem sobre os quatro pontos cardeais.

O tridente representa as três qualidades (guna) primárias da Natureza, a saber, sattva, rajas e tamas.

O animal que lhe é associado é o touro Nandin, símbolo da energia sexual que Shiva dominou por completo.

O leão que figura em muitas imagens desse deus representa a gula e a veracidade, também dominados por Shiva.

Shiva é associado desde os primórdios a Rudra (“uivador”), divindade especialmente ligada ao elemento ar e às diversas manifestações deste (vento, tempestade, trovão e raio, mas também à energia vital, à respiração, etc.). Rudra também é compreendido como um grande médico, e essa mesma função medicinal é sugerida pelo nome Shiva.

No Hinduísmo tardio, Shiva tornou-se o aspecto destrutivo ou transformador da famosa trindade (trimurti), cujo dois outros membros são Vishnu (que representa o princípio de conservação) e Brahma (que simboliza o princípio criador). Shiva, como tal, é muitas vezes chamado de Hara (“Eiiminador”).

Segundo as representações típicas, reside no Monte Kailâsa com sua divina esposa Parvatí (“a que reside na montanha”).

Nomes de Shiva

Muitos tantras o apresentam como o primeiro mestre do conhecimento esotérico. Na qualidade de Realidade suprema, os shaivas (seguidores de Shiva) invocam-no como Maheshvara (“Grande Senhor”). Como aquele que concede a alegria e a serenidade, é chamado de Shankara; como sede e fonte de todas as delícias é denominado de Shambhu.

É chamado também pelos nomes de Pashupati (“Senhor dos animais”), Íshana (“Soberano”) e, não menos importante, Mahadeva (“Grande Deus”).

Outro símbolo tipicamente associado a Shiva e que tem muitos outros aspectos é o linga. Essa palavra costuma ser traduzida por falo, mas significa literalmente “sinal”, e representa o princípio da criatividade considerado em si mesmo. O linga é o âmago criativo da existência cósmica (prakriti), indivisível e eficiente. O polo que o complementa é o princípio feminino yone (fonte, útero). Juntos, esses dois princípios tecem a tapeçaria do espaço-tempo. Alguns Shaivas usam o shiva-linga como amuleto; no ambiente tântrico, representações do linga feitas de pedra ou metal e colocadas em gamelas que representam yoni lembram os praticantes da natureza bipolar de toda a existência manifestada; o mundo é uma interação entre Shiva e Parvatí (Shakti), ou entre Consciência e Energia.

Mitologia de Shiva e Ganga

Ascetas faziam meditação e estavam na busca espiritual. Mas asuras faziam barulhos em seus ouvidos, atrapalhando-os. Os buscadores então não estavam conseguindo meditar e quando eles iam atrás dos asuras estes se escondiam no oceano.

Os ascetas foram atrás de um sábio que se chamava Avastia e pediram a sua ajuda. Explicaram a situação. O sábio então tomou todo o oceano, tudo ficou seco. Então eles chamaram outro sábio Bhagirata. Este fez muita ascese e pediu para a deusa Ganga descer. Ela disse que precisaria de alguém para ampará-la na descida, senão ela destruiria tudo. Shiva, então, se dispôs a amparar Ganga. Ganga desceu na sua cabeça e se emaranhou em seus cachos. Shiva foi para floresta e lá ficou com Ganga em seus cabelos. Os ascetas foram novamente atrás de Bhagirata para saber o que estava acontecendo. Este foi pedir a Shiva, nos Himalaias, que Ganga fosse liberada. Shiva foi desenrolando seus cachos no topo do Himalaia e Ganga foi descendo, abençoando toda a Índia.

Interpretação

Os asuras representam as nossas distrações e preocupações quando tentamos meditar. Esses asuras se chamam mandehas (mente e corpo) e ficam nos chateando. Mas se formos muito austeros, tudo fica muito seco, ficamos rígidos. É preciso então ter compaixão por nós e pelos outros no processo de autoconhecimento. Bhagirata representa a pessoa compassiva que quer ajudar os outros. Ganga representa o conhecimento, que está acima da dualidade. O conhecimento não pode ser adquirido de forma brusca, precisamos estar preparados. A nossa cabeça deve estar pronta. Quando Ganga desce, Shiva vai para a floresta, os cabelos representam o poder mental. Quando o conhecimento desce em nós, precisamos refletir. Para isso é preciso um tempo, e isso é representado quando Shiva vai para os Himalaias, para a brancura, que representa a mente purificada. E uma vez realizado, ele transmite o conhecimento em doses homeopáticas.

As lágrimas de Shiva

Conta uma história que, com seu poder de yogin, Shiva sentou em contemplação e meditou numa arma divina para acabar com os asuras. Ele ficou sentado com os olhos abertos contemplando durante mil anos. Seus olhos sofreram no processo e lágrimas caíram no chão. Essas lágrimas deram origem a árvore que dá a semente Rudraksa (aksa – olho), que significa, olho de Shiva.

Quando fazemos a meditação, o asura invencível é o ego. Nós precisamos juntar todas as forças, todos os devas, para lidar com o ego. Pela contemplação e pelo desapego nós purificamos a mente. E isso demora, Shiva levou mil anos contemplando.

Shiva pode ser o sábio que abençoa o discípulo. Ou como o próprio buscador que chega no objetivo final através da arma do desapego. Ego é também chamado de Madu (mel), porque é muito doce.

Mantra de Shiva

Om Nama Shivaya

Representa todo o Universo. Os cinco elementos que formam todo o Universo.

Na – terra

Ma – água

Shi – fogo

Va – ar

A – espaço

Fonte: A Tradição do Yoga, de Georg Feuerstein; Apostila do curso de Formação de Yoga de Tales Nunes.

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