Essa vida digital que a gente tem cultivado e se adaptado a pertencer, traz cada vez mais a necessidade de ser produtive, de fazer a última dancinha, de inovar no seu campo de trabalho, de se atualizar das últimas notícias, de consumir, consumir e consumir.

Esse estímulo constante é um alimento cumulativo que gera o congestionamento da mente e incita mais agitação, hiperatividade, embriaguez sensorial e como consequência menos inspiração, contemplação e criatividade. Ficamos estagnados nas 3 primeiras qualidades de operação da mente que vou enumerar a seguir.

A primeira é chamada de KSHIPTA; talvez você já tenho ouvido a analogia do macaco bêbado balançando de galho em galho? Pois bem, nessa qualidade a mente experimenta uma mistura de sensações e pensamentos sem um elo ou motivo que tenham um fundamento, quem nunca 🫣. Na próxima, a qual chamamos de MŪDHAM, a letargia, o peso, o desânimo, a ausência de entusiasmo dominam o individuo, podendo ser algo ‘corriqueiro’ que ocorre após a ingestão de uma refeição pesada ou, uma estagnação mental que se prolonga. Já em VIKSHPTAM a mente faz uma bagunça organizada variando entre saber o que quer e a incerteza, a autoconfiança e a insegurança, de acordo com o livro O Coração do Yoga, esse é o estado mais comum entre todos nós. Essas 3 qualidades da mente humana são parte da nossa existência mundana e são inevitáveis. Mas elas nos limitam, nos prendem a esse mundo de estímulos e falta de foco.

MAS E AÍ? Como mudar isso?
Bem, primeiro precisamos identificar e aceitar que essas qualidades existem para depois darmo-nos outro tipo de alimento que nutre outras qualidades da mente que são; EKAGRATA e eventualmente NIRODHA.
A primeira é definida como um estado de atenção plena, EKA um ponto e GRADA proceder, portanto, seguir em uma direção, e a segunda sendo o total envolvimento da mente com a experiência, a imersão naquilo que está sendo vivido. Um exemplo que sempre me ocorre é alguém completamente absorvide na/pela música, seja tocando um instrumento ou dançando, nada mais existe senão aquele momento, aquele acorde/melodia/ritmo.

Essa ciência que aqui nos propusemos a investigar juntes, o Yoga, não diz que essas qualidades são boas e nem ruins. Elas oferecem possibilidades diferentes, *são faculdades necessárias para a vida. **Yoga é definido como um estado em que os movimentos da mente conectada a essência encontram-se em uma qualidade elevada, que é nirodha.

As ferramentas que o Yoga nos fornece são esse alimento para que possamos desfrutar dessas outras possibilidades e qualidades da mente humana e lembrarmos então do quão essencial é estar vivendo cada momento da nossa vida real e analógica.

*TKV Desikachar, O Coração do Yoga, 2ª edição, Ed. Mantra 2018
** Diego Koury, interpretação do sutra 2.1 Yoga citta vrtti nirodhah

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