O ayurveda pode ser flexível?

Quando começamos a estudar Ayurveda, é comum a tendência de querer copiar o que os indianos fazem, comem e usam como medicamento para nos sentirmos próximos de um Ayurveda autêntico, direto da Índia. É só depois que nos aprofundamos mais nos princípios ayurvédicos que passamos a entender que não faz tanto sentido aplicar o Ayurveda dessa forma. Para fazer sentido, o Ayurveda precisa considerar onde estamos e o clima ou a estação do ano, isso por um motivo fundamental: não somos separados do meio em que vivemos.

O Ayurveda é inteiramente baseado na natureza e em seus ciclos. O que acontece fora de nós diretamente influencia o que acontece dentro de nós. Para o Ayurveda funcionar, ele precisa ser individual que sempre leva o meio em que a pessoa vive e as condições climáticas em consideração. Portanto, entender os princípios Ayurvédicos profundamente e estar atento ao meio em que vivemos é fundamental para que saibamos como aplicar esse conhecimento de onde estivermos.

Dessa forma, também não haverá a necessidade de depender demasiadamente de alimentos e de ervas do outro lado do mundo quando resolvermos colocar este conhecimento tão flexível em prática.

Quando priorizamos alimentos que são locais também acabamos ajudando os agricultores e produtores locais e promovemos um comércio consciente e sustentável. A natureza é generosa e geralmente consegue nos oferecer exatamente o que precisamos para sobrevivermos saudavelmente na terra em que crescemos.

Alimentação ayurvédica não é sinônimo de cozinha indiana e nem precisa ter temperos exóticos. Os princípios essenciais ayurvédicos quando aplicados à alimentação têm como objetivo manter o equilíbrio do nosso organismo, e para isso é relevante considerar o nosso metabolismo atual e o meio ambiente que nos influencia. São esses fatores que vão decidir qual a dieta que precisamos e o quanto de tempero potencialmente colocar na comida, o que pode variar de um dia para outro.

As principais qualidades que o clima traz e acabam nos influenciando são: calor, frio, umidade e secura. Desses fatores, várias combinações climáticas podem emergir. A secura pode vir através de ventos fortes, temperaturas altas, falta de chuvas ou de baixa umidade do ar mesmo. Basicamente, as qualidades do clima vão tender a agravar qualidades semelhantes no nosso corpo, portanto, o calor externo vai tender a agravar o pitta e potencialmente o vata também. O frio vai tender a agravar o kapha e o vata. Enquanto que a umidade tende a agravar o kapha, e a secura tende a agravar o vata.

Cada lugar em que vivemos vai requerer de nós uma alimentação que reflete as condições climáticas do local naquele momento. O Brasil sendo um país tão grande vai requerer diferentes formas de alimentação para quem estiver no nordeste e para quem estiver no sul, por exemplo, já que as estações do ano chegam a ser bem diferentes. Para alguém que mora no norte ou nordeste do Brasil, onde o clima tende a ser mais quente e úmido, uma dieta mais anti-kapha e mais anti-pitta seria uma recomendação válida para a maior parte do ano, por exemplo. Mas nos dias de ventos fortes no nordeste, cuidados anti-vata também precisariam ser tomados.

Estudar Ayurveda pede que estejamos conectados com a natureza, pois estudar Ayurveda é prestar atenção ao que cresce ao nosso redor, e estar atenta à mudanças climáticas que acontecem ao longo do ano. Um Ayurveda ‘verdadeiro’ é um Ayurveda flexível, que dá para ser posto em prática usando os recursos naturais de uma determinada região. Essa é a beleza e a grandeza do Ayurveda.

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