O mantra de Ganesha

VAKRATUNDA MAHAKAYA SURYAKOTISAMAPRABHA
NIRVIGHNAM KURU ME DEVA SARVAKARYESU SARVADA

Ó senhor que possui um corpo imenso, do tamanho do universo, que tem o adorno de uma tromba curva, que é a luz do conhecimento igual a mil sóis! Sempre, em todos os meus empreendimentos, faça-me livre de todos os obstáculos.

Ganesha

Ganesha é a deidade mais reverenciada na Índia, ele é sempre o primeiro a ser reverenciado porque é o senhor dos obstáculos. Está presente na porta dos templos e na porta das casas dos hindus como símbolo de proteção.

Considerado o primeiro filho de Shiva na forma do Todo, da realidade suprema, Ganesha é aquele que nasceu da realidade suprema.

Shiva representa a realidade suprema e o corte da cabeça de Ganesha simboliza que só reconheceremos essa realidade suprema tirando nossa cabeça e colocando outra no lugar. Com essa nova cabeça renascemos, isso é o que acontece quando iniciamos o auto conhecimento.

Nascimento de Ganesha

Há muito tempo, enquanto o deus Shiva estava guerreando ao lado dos outros deuses, sua consorte, Parvati, estava a sós em casa. Na ocasião, ela precisava de alguém que protegesse a casa enquanto ela se banhava. Sem achar outra opção, ela usou seus poderes para criar um filho, Ganesha. Ela o instruiu a manter rígida vigilância na casa, não permitindo que ninguém ali entrasse – Ganesha assim o fez.
Em pouco tempo, Shiva retornava à sua casa, alegre com a gloriosa vitória que trouxera aos deuses, parando apenas à entrada de sua casa, onde encontrou Ganesha. Este, seguindo fielmente as palavras de Parvati, não permitiu que o deus entrasse na casa. Shiva, irado, cortou a cabeça do jovem Ganesha. Enquanto isso, Parvati saía do banho e, ao ver a cena, ficou horrorizada. Triste e enraivecida, a deusa explicou a Shiva a situação.
Shiva concordou que agira mal e decidiu trazer Ganesha de volta à vida, pondo-lhe a cabeça da primeira criatura viva que encontrasse dormindo voltada para o norte. O deus enviou seus soldados em busca da criatura, ao que lhe trouxeram um elefante. Assim, o deus Shiva reviveu seu filho, que passou a ter uma cabeça de elefante.
Parvati ainda não se contentara com o trato e queria mais. Então, Shiva concedeu a Ganesha a dádiva de que, antes de iniciar qualquer trabalho, as pessoas adorariam seu nome. E é por isso que se deve invocar o nome do deus Ganesha antes de qualquer empreendimento.

Iconografia

O primeiro passo do autoconhecimento é escutar o ensinamento, por isso ele tem 2 orelhas grandes. O segundo passo é refletir sobre esse ensinamento, por isso a cabeça enorme. A tromba representa a discriminação porque consegue pegar objetos grande e pequenos.

As presas representam os pares de opostos, porque na vida o ser humano tá sempre tendo que escolher, e o sábio é aquele que não é afetado pelos pares de opostos e por isso Ganesha tem uma presa quebrada.

Ganesha representa Isvara (o ser espiritual superior), sua barriga grande representa todo o Universo. A barriga de Ganesha representa que ele engoliu e digeriu todo o conhecimento e esse conhecimento se tornou parte dele, virou a barriga. Representa também que o sábio digere as situações de forma lenta e moderada.

Os quatro braços representam os instrumentos internos: o ego, a memória, manas (mente) e budhi (o intelecto).

Ganesha representa a força que remove obstáculos, o machado corta e o laço amarra os obstáculos. O machado representa vairagya, porque corta todos os apegos e desejos que nos tiram do nosso estado de paz. A corda representa Bhakti, a devoção. Que eu possa ter amarrado na minha vida a relação com Isvara, que eu esteja amarrado na minha verdadeira natureza.

O doce representa as alegrias que a gente adquire no caminho do auto conhecimento e, como um doce, a gente come e já quer outro. O caminho não é sofrido, o caminho para liberdade é doce e apreciativo.

Ganesha tem um pé no chão e outro no ar. Simboliza que o sábio vive no mundo como qualquer outra pessoa. O pé no chão é a parte que está lidando com o mundo e o pé que está no ar simboliza a conexão com o Ser. O sábio é aquele que vive no mundo sem perder a visão do Todo. O termo memória de elefante é isso, ele jamais esquece da sua verdadeira natureza.

O rato simboliza os desejos, o rato é um animal voraz que come de tudo, sempre come demais e guarda tudo nos buracos, como a mente que sempre deseja algo e nunca se sacia. O ratinho sempre aparece aos pés de Ganesha e olhando para ele segurando um doce como se pedisse autorização para entregá-lo o doce, isso quer dizer que os sábios tem os desejos aos seus pés e sob seu comando.

Uma historinha de Ganesha

Ganesha foi para uma festa e comeu de tudo, toda a comida, a decoração, os presentes, comeu tudo e nada saciava a sua fome. Shiva, seu pai, chega com todo carinho e dá uma porção de arroz torrado para ele e sacia sua fome.

Isso simboliza que o sábio precisa queimar suas tendências e o arroz tostado é como as tendências queimadas, não germina mais. É preciso queimar essas tendências no fogo do auto conhecimento e ter o reconhecimento de que nada material vai saciar nossos desejos, pois eles são infinitos. Ganesha comeu tudo que desejava e o desejo permanecia. Apenas quando ele, na presença de Shiva, o Todo, reconheceu a sua verdadeira natureza é que a busca exterior como meio de encontrar a felicidade se desfez. E quando isso acontece, os desejos se tornam ferramentas de ação no mundo e não uma força que te leva a ação desenfreadamente.

Mantra

São sons especiais que representam vibrações especiais. Mantra é definido como mananat trayate iti mantrah, que significa aquilo que protege (trayate) a mente (mananat).

A proteção acontece pelos seus efeitos, que entre eles são:

Trazer uma nova vibração e assim influenciar os humores mentais, elevando sua qualidade;
Trazer um novo conteúdo mental;
Aumentar a introspecção e presença;
Melhorar a memória;
Modificar as sensações no campo emocional;
Incrementar o agni (fogo digestivo);
Ajudar a trazer mais estabilidade aos cinco elementos no nosso corpo (éter, ar, fogo, água e terra);
Estimular o sistema respiratório e proporcionar uma renovação no fluxo de prana no sistema.

Tudo vibra ao nosso redor e dentro de nós. Os íons em nossas células vibram, nossa respiração provoca vibrações, o pensamento possui vibrações. Através da verbalização contínua, ou entoação mental de mantras e sílabas fortes, essas vibrações acabam modificando nossa vibração interna.

OM GAM GANAPATAYE NAMAH

Mantra é uma evocação. Toda evocação é uma ação ritualística, um momento especial. Antes de entoar o mantra precisamos nos conectar com seu significado.

Om Gam Ganapataye Namah é o mantra que se utiliza para evocar as qualidades de Ganesha (que entre elas se destacam a força, ancoramento e discernimento). É um dos mais conhecidos pelos praticantes do yoga, e muito usado pra fazer o japamala por ser auspicioso para abrir os caminhos para que os empreendimentos fluam com facilidade.

Para que o mantra seja eficaz, precisamos estar atentos a alguns fatores: a evocação deve partir do coração; a pronúncia, o tom e a altura da voz deve ser adequada; ao evocar deve-se visualizar o significado do mantra; deve-se meditar na vibração que o mantra produziu; e enquanto repete a evocação deve-se constantemente ressignificar sua intenção e compreensão sobre o processo.

Um pouco da minha experiência pessoal e sugestão de prática

Recentemente, durante um curso de formação de yoga que estou fazendo, fui instruída a confeccionar um japamala (colar de orações usado no hinduísmo e budismo). Devemos entoar um mantra enquanto fazemos, e mentalizar alguma intenção que esteja relacionada àquele mantra. Escolhi o mantra de Ganesha e iniciei meu projeto, que a princípio me parecia muito simples. Contudo, não sou muito acostumada a trabalhos manuais e por mais simples que pareça ser – passar as sementes nesse fio encerado dando um ou dois nós a cada semente – as dificuldades começaram a aparecer… os nós não saíam iguais, os nós duplos tinham que ser refeitos a cada tanto, as sementes tinham tamanhos diferentes, os furinhos eram desiguais e o colar foi ficando desalinhado e torto. E aos poucos fui começando a ficar incomodada. Eu tinha escolhido sementes de cores lindas e visualizava aquele colar perfeito, como o que já tinha em casa, mas o que se revelava não era isso. Um sentimento de fracasso e reprovação começaram a tomar conta da minha mente, enquanto tentava manter a serenidade e a repetição do mantra.
O que parecia uma experiência lúdica, mexeu com meu emocional, me abalou. Estávamos em um grupo de mulheres, cada uma teve a sua experiência, umas se divertiram, conversaram durante a produção, outras mais concentradas, mantiveram um ritmo, desenvolveram uma técnica, algumas terminaram enquanto eu ainda estava tentando acertar os nós, acertava um, refazia outro, e foi assim até o final, acabei suando, mal-humorada e quase não tive tempo de terminar.
Foi meu primeiro japamala e muita coisa ficou ecoando na minha cabeça. Saí da aula incomodada, demorei pra relaxar e dormir.
Na manhã seguinte acordei com uma sensação que trabalhei fundo em mim e tirei algumas camadas que precisavam ser removidas. Mais revigorada e confiante, peguei o japamala, recém-confeccionado, com todo amor, sentei diante do meu altar e iniciei as 108 voltas com o propósito de seguir meu caminho com mais leveza e menos apego aos resultados.

E você? Já utilizou o japamala para entoação de mantras? Já pensou em fazer o seu próprio japamala? Deixo essa sugestão, para que você tire um tempo pra se dedicar a essa experiência, simples, mas que pode ser surpreendente e reveladora, e independente de como seja, que você possa acolher o resultado e se parabenizar por tentar e estar na busca.

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