Yoga é um conhecimento preservado através da transmissão oral. Mais precisamente, um conhecimento transmitido de um professor para seu aluno. Conta-se que um jovem, quando decidido a dedicar-se ao Yoga, buscava um professor e ia morar com ele afim de receber esse aprendizado.
Os estudos sobre o papel do professor de Yoga, como preservado por Sri Tirumalai Krishnamacharya, me reviram (no bom sentido!) em lugares muito profundos e primitivos. O papel desse indivíduo, quase uma entidade, cujo ofício pressupõe total engajamento em se lapidar nessa função de professor e lapidar o outro (o aluno), e que “tem amor em fazer o aluno aprender, sendo isso diferente de ter amor por ensinar” (na frase do meu querido professor) é tão desafiador quanto belo.
A relação aluno-professor também é delicada: acertar a distância psicoemocional necessária para que o conhecimento transmitido alcance camadas profundas a partir do vínculo, sem, contudo, colocar aluno e professor em posições inapropriadas (como colocar o professor em um pedestal, por exemplo) também não parece de simples execução.
O primitivo dessa história é sentir-me sendo guiada para as profundezas do meu ser com muito amor e dedicação. Apesar dos tempos em que vivemos, da tecnologia, da globalização, e da imensidão de conteúdos disponíveis por aí, essas relações me fazem sentir novamente em um tempo onde a tradição oral era o padrão, e o conhecimento era tratado de forma tão especial que alunos e professores viviam juntos em prol desse ensinamento e aprendizado – quando ensinar e aprender dependiam da vivência dessa relação e experiência.
Acredito que um bom professor é feito de muitas reflexões como essas. Estarmos atentos durante todo o caminho às minúcias desse ofício sagrado é imprescindível para o estabelecimento de relações saudáveis, amorosas e possíveis de darem bons frutos. É importante lembrar também que aprendemos quando e enquanto ensinamos (aprendemos inclusive a ensinar), mas que independente desse aspecto, podemos ser professores em algumas áreas e alunos em outras – então essas relações nunca são totalmente puras. Também acabamos sendo, ao mesmo tempo, professores e alunos de Yoga, uma vez que os estudos não cessam e apenas se aprofundam. Entender que para além da transmissão de um conhecimento técnico, esse professor pode nos dar as mãos em nosso processo de autoconhecimento e crescimento me emociona. Penso em todos os professores que tive no meu percurso, e atualmente nos que continuam me guiando, e agradeço. Vocês estimulam minha profunda gratidão – além da vontade de continuar aprendendo, e a certeza de estar no meu caminho certo.
Para aqueles que desejam se aprofundar no caminho do Yoga, meditem sobre essa intenção e busquem um professor! No primeiro capítulo do texto Yoga Rahasya, de Nathamuni, já está anunciado que o Yoga apenas produz resultados pela graça do professor (YR 1.7).