Eu não estou aqui para escrever sobre a lista dos melhores alimentos para o outono, nem detalhar aspectos do estilo de vida que devem ser seguidos nestas épocas de transição das estações. Há pessoas maravilhosas para abordar essas informações. Eu estou aqui para fazer você entender o motivo pelo qual damos tanta importância para TRANSIÇÕES dentro da perspectiva Ayurvédica. Então vamos lá…

Em sânscrito, esta palavra é uma união de duas raízes. Temos sam, que significa união, e dha, que tem outras traduções, mas neste caso, remete ao ato de colocar, posicionar. Quando juntamos essas duas palavras, gramaticalmente temos a palavra sandhi. Vendo desta forma, podemos entender que sandhi significa algo que une, que coloca junto.

Este conceito é amplamente ensinado dentro do Ayurveda. Em um nível mais denso, anatômico, as articulações, que unem nossos ossos, são chamadas de sandhis. Os neurônios do nosso sistema nervoso se conectam a outros neurônios ou a outros órgãos, através de pequenas fendas sinápticas (sandhis). Em um nível mais sutil, este conceito ganha aplicações muito maiores.. Sandhi significa um período no tempo, uma fase da existência que une outras, de uma forma linear ou cíclica.

Por exemplo, na sala de cirurgia, quando vou aplicar uma anestesia geral em um paciente, eu preciso ficar muito atenta em dois momentos bem específicos do processo: A indução da anestesia, onde eu levo meu paciente de um estado de consciência alerta e com todos seus reflexos preservados, para um estado de inconsciência e relaxamento muscular total. Outro momento importante, ao término da cirurgia, é o despertar da anestesia, onde eu preciso trazer o paciente de volta ao estado de consciência e com todos os seus sentidos e reflexos preservados. São sandhis do processo de uma anestesia geral, estas duas fases de indução e de despertar. Duas fases de transição.

Linearmente, percebemos sandhis que unem as fases da nossa jornada nesta existência. Como a fase kapha, da nossa infância, que caminha para uma fase pitta, adulta. Qual seria a sandhi entre elas? A adolescência, que representa justamente este período de transição. Com o tempo, a fase pitta abre caminho para a fase vata, que nossa sociedade chama de terceira idade. Nas mulheres, representada pela menopausa. A andropausa, para os homens, tende a acontecer de forma mais lenta e gradual, mas, mesmo assim, representa uma sandhi.

Agora, de forma cíclica, podemos observar sandhi nos ritmos do dia e da noite, através do amanhecer e do entardecer. Nos ciclos da lua, nas transições das marés, e nas trocas das grandes estações com a primavera e o outono. Se observar atentamente, uma sandhi pode ser representada por um novo relacionamento, uma mudança de lar, um novo emprego, um ano letivo novo que se inicia, etc…

Percebemos, então, que sandhi é justamente uma transição que une fases distintas. Um momento de instabilidade, que de certa forma agita, torna mais leve, movimenta algo que estava estável. Um momento transitório, que serve para levar a um novo estado de estabilidade, diferente do anterior.

Se observar a primeira lei de Newton, Lei da Inércia, vemos uma aplicação bem clara do conceito de sandhi, de transição. Seu enunciado original é: Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele. Ou seja, se não fosse pela existência destas forças, não envelheceríamos. Se não fosse pela existência destas forças, seria eternamente dia ou noite. Não teríamos as fases da lua, nem o ciclo das estações. Se não fosse pela existência destas forças, nosso universo não existiria! Transições fazem parte da nossa experiência neste mundo, e são abençoadas e necessárias para manter uma ordem cósmica.

Estas transições, porém, são períodos de maior fragilidade. Ficamos mais vulneráveis e sensíveis. O que aprendemos com o ayurveda é justamente ter um olhar mais atento, com mais carinho, mais atenção e amor a nós mesmos e a tudo ao nosso redor nestes momentos. Instabilidade, mudança, transitoriedade, leveza, movimento… São gunas, propriedades, de qual das nossas três funções fisiológicas fundamentais? VATA. Isto significa que, independentemente da sua prakrti, ou constituição, todos nós, em menor ou maior grau, teremos nosso vata tensionado nestes períodos. São momentos em que ficamos mais propensos a distúrbios deste dosha. São períodos em que nossa saúde, física, mental, espiritual e social precisam ser manejadas com um olhar mais profundo e cuidadoso.

As nossas articulações são estruturas anatômicas complexas e ao mesmo tempo vulneráveis a várias doenças. Todas as formas de comunicação do nosso sistema nervoso são áreas complexas e que podem sofrer inúmeras intempéries. Por isso são tão bem protegidas por diversas estruturas do nosso corpo. A maior parte das complicações em uma anestesia geral acontecem nas fases de indução e de despertar. A adolescência é um período difícil, onde várias mudanças físicas, mentais e emocionais trazem grandes desafios. A menopausa e a entrada para a terceira idade é outro momento onde estamos bem vulneráveis. Um novo amor, um novo trabalho, uma viagem, um novo projeto… Todos representam momentos em que estamos mais vulneráveis, até que entremos em uma nova forma de estabilidade.

Então, amade leitor, comece a se observar! Comece a observar o universo ao seu redor e se estiver passando por algum período de mudança, de transição, seja de dentro para fora, ou de fora para dentro, tenha carinho consigo!
Seja paciente, seja gentil…
É momento de cuidar da sua energia Vata com muito amor.

नमस्तुभ्यम् Namasthubyam